sábado, 6 de outubro de 2012

Abracemos a Noite


Abracemos a noite
Que chega do abismo,
Instruída e calada.

Em seu peito de treva
Descansemos a alma
Tão desesperada

Contemplemos a noite
Vestida de sombra,
De tempo adornada.

Tão maternal e estranha,
Tão simples, tão deusa,
Fácil e inviolada,

Que a varanda remota
De um negro horizonte
Prolonga, admirada.

Abracemos a noite
Que tece e destece
A frágil escada.

Cecília Meireles

Sem comentários: