quinta-feira, 20 de março de 2014

Génese



Todo o poema começa de manhã, com o sol. Mesmo 
que o sol não esteja à vista (isto é, céu de chuva) 
o poema é o que explica tudo, o que dá luz 
à terra, ao céu, e com nuvens à mistura- a luz incomoda, 
quando excessiva. Depois, o poema sobe 
com as névoas que o dia arrasta; mete-se pelas copas das 
árvores, canta com os pássaros, e corre com os ribeiros 
que vêm não se sabe de onde e vão para onde 
não se sabe. O poema conta como tudo é feito: 
menos ele próprio, que começa por um acaso cinzento, 
como esta manhã, e acaba também por acaso, 
com o sol a querer romper. 

Nuno Júdice

Sem comentários: